sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Liberdade e Consciência

“É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 1, 5)

Mas, libertou de que? Somos livres para que? Como podemos dizer que somos livres?

Com muita frequência recomendamos: examinem a consciência. Mas, o que é consciência? Se existe consciência, por que insistimos em errar?

O problema é que nossa consciência pode estar danificada, o que faz com que continuemos no mal e com o pecado co-habitando em nós.

São Pedro nos diz: “Pois o batismo não serve para limpar o corpo da imundície, mas é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo”. (1Pd 3, 21)

Somos livres para a prática do bem. É para a liberdade que Cristo nos libertou. Porém, uma liberdade embasada na sua ressurreição. Uma libertação em Jesus, um sepulcro vazio de Jesus, nos leva a uma boa consciência.

Consciência moral

Os pais são os primeiros responsáveis pela educação da consciência moral dos filhos e não devem se eximir disso. A tarefa deve ser desempenhada sequencialmente pelo casal, através de testemunhos, bons exemplos e formação de um lar de ternura, perdão, respeito e fidelidade, capaz de educar os filhos de forma virtuosa. Para isso, pai e mãe necessitam ter domínios próprios. Caso contrário, crianças e adolescentes crescem com a consciência desvirtuada, pois aprenderam assim com os seus primeiros professores. Assim, cabe aos pais corrigi-los, e orientá-los segundo a Lei Divina. (Ef 6, 4.) É preciso edificar e levar os jovens ao amadurecimento, ao uso correto da liberdade e da razão.

Livre arbítrio

Deus nos deu o “livre arbítrio”, a liberdade de escolher, entre agir ou não agir, fazer ou não fazer determinadas coisas. E, essa liberdade alcança a sua perfeição quando está em profunda sintonia com Deus.

Deus é misericordioso, mas respeita o nosso livre arbítrio. Deus é bondoso, porém, sofreremos as consciências do nosso livre arbítrio.

A liberdade que nós cristãos temos, nem Deus na sua onipotência nos tirará, nem Jesus no seu ato redentor nos privou. Ele nos abriu a porta e quebrou os grilhões, mas sair depende de nós.

A liberdade do cristão não é o direito de fazer tudo e o que se quer. Não temos tal liberdade, pois, na liberdade está o bem.

O fato de uma pessoa dizer que fez algo coagido, porque as circunstâncias o levaram agir de forma errada, não justifica e não a livra da responsabilidade e das consequências de seu erro. Ela fez mau uso do seu livre arbítrio e não ouviu a voz de Deus, que nos fala na consciência.

“Deus criou o homem e entregou às suas próprias decisões” (Eclo, 15, 14). Os atos levam a imputabilidade, pois, o que fazemos tem consequências para nós, para os outros e para nossa salvação.

Decisões acertadas

Na vida não conseguimos ficar sem pender para um lado. Em nosso dia-a-dia temos que tomar decisões e não estamos protegidos por uma redoma. Devemos usar nosso livre arbítrio e nos valer de nossa liberdade. Mas, como fazê-lo sem errar? Como definir escolhas certas?

O caminho para a tomada de decisões certas começa por endireitar a consciência, a vontade pela razão.

O ser humano pode ou não seguir a Deus. A decisão é nossa! Enquanto não estivermos em plena sintonia com Deus e absorvidos por Ele, ficaremos sujeitos a erros de escolha entre o bem e o mal. Poderemos crescer na perfeição para Deus ou definhar no pecado.

Não é por acaso que o primeiro Salmo fala dos dois caminhos, o da perfeição ascendente a Deus e do ímpio que definha no pecado e na mentira.

Opção pelo mal

Quanto mais praticamos o bem e nossas opções tenderem para este caminho, mais nos tornaremos livres. A liberdade é fruto das escolhas boas, enquanto que, as opções pelo mal nos escravizam. Livre para servir é a nossa opção concreta para o bem.

Quando uma pessoa toma o caminho do mal, é comum vê-la piorando em todos os aspectos de sua vida. Se opta pela mentira, outros pecados se agregarão a este e ela se tornará ruim, maquiavélica e demoníaca. Não porque Deus quis! Deus não predestinou nada.

A escolha pessoal em suas várias opções negativas - mentira, adultério, fornicação, perjúrio e injustiça - levam-na a agregar sobre si uma energia do mal, a faz perder a luz, a graça, o brilho de Deus e a escraviza ao demônio e ao mal.

A vitória está ganha em Cristo. A liberdade foi conquistada, porém, sair do cativeiro depende de nós.

A liberdade que Jesus conquistou na cruz quebrou o pecado de Adão e nos deu a chance de escolher o bem. Mas, mesmo Cristo tendo vencido a morte e derrubado o diabo, não pode interferir no que o Pai criou: o homem e a mulher livres para tomar suas próprias decisões.

O livre arbítrio, liberdade nos presenteada por Deus, tem graves implicações e nos torna responsáveis pelos nossos atos.

Virtuosidade

Pessoas virtuosas são aquelas que se esforçam para o conhecimento do bem, que buscam na ascese e na oração, o discernimento de seus atos. Na Psicologia, é usado o termo “se ter nas mãos”. Na Espiritualidade é o conhecimento de nossa consciência moral.

Qualquer ato tem suas consequências e implica numa responsabilidade de alegria ou de dor. Se formos infelizes a culpa não é de Deus, mas sim, de nossas decisões mal tomadas. Podemos passar por fortes provações e sermos felizes, sofrer graves enfermidades e sermos serenos. Por outro lado, podemos ter tudo e sermos infelizes.

“De que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a si próprio?”, disse Jesus. Ele sempre esteve em profunda sintonia com o livre arbítrio do homem, tanto que não impôs o seu seguimento, mas disse: “Se alguém quiser ser Meu discípulo, tome a sua cruz e siga-Me” (Mc 8,34).

A ignorância pode diminuir a gravidade de um ato, mas não apaga a violência. Agir por medo, por coação, por desequilíbrio psíquico ou social diminui, mas não apaga a culpa.

Se nos é oferecido sanar a ignorância à luz da Palavra e não aceitamos tornamo-nos mais ignorantes ainda e ampliamos a gravidade de nossos atos. Estava ao nosso alcance conhecer a Verdade e nós, na liberdade de nossas decisões, não aceitamos.

Redenção ou perdição

A liberdade é uma faca de dois gumes: pode ser nossa redenção ou nossa completa perdição.

Dar senhorio a Jesus e seguí-lo é submeter a nossa liberdade e vontade à Dele, porque Ele é o Senhor. Foi assim, entre Jesus e o Pai. A vida de Jesus não foi tirada! Ele a entregou livremente, em favor dos homens, por amor ao Pai, que nos quer, mas não nos obriga. Essa é uma decisão pessoal, voluntária, sem coação ou medo.

Se nos dizemos cristãos batizados, devemos entregamos nossa liberdade ao discipulado de Cristo. E, porque somos cristãos católicos, não só entregamos nossa liberdade a Jesus, mas também à Igreja.

A liberdade dada em Cristo e por sua vez, à Igreja, compreende que Ele é grande e que nós em nossa pequenez e razão limitada, não O alcançamos, mas, O aceitamos.

Paixão e razão

Discernir entre nossa liberdade, nossa vontade e a vontade de Deus é outro problema sério para a nossa consciência.

A consciência moral que temos é o julgamento da razão. É o julgamento que fazemos sobre um ato nosso ou o nosso planejamento em executá-lo. Nessa hora, a consciência nos dirá se é justo e correto, ou injusto e mau. Esse dispositivo presente em nossa alma é a essência divina em nós. É uma lei do nosso espírito que ultrapassa a nós mesmos. A consciência é como sacrário, no qual Deus nos fala.

Se os princípios que nos movem, não são de Deus, a liberdade ao invés de nos conduzir à perfeição, levar-nos-á ao abismo. Por isso, a consciência deve ser educada, esclarecida, reta e formada pela razão.

A paixão não é contrária à razão. Porém, a razão tem que ter domínio sobre a paixão. Talvez a paixão nos mova, mas a decisão deve ser da razão. A paixão mal usada pode nos levar à perdição.

Precisamos nos cuidar, porque vivemos no Mundo e somos continuamente influenciados negativamente, na formação de nossa consciência, que é uma tarefa para toda a vida.

A educação, a busca da virtude e da prudência deve nos levar à cura dos medos. Por mais que, a pessoa vá a Deus por temer o inferno ou por atrição, num primeiro momento, a busca ao Pai deve ser por contrição. Nossa relação com Deus deve ser baseada no amor e não no medo. Deus nos quer como amantes devotados e que coloquemos Nele nossa liberdade.

Lembre-se: a cura do medo, do egoísmo e da culpabilidade é uma questão de treinamento, de exercício. Quem consegue um nível de consciência reta, encontra a paz.

Instrumentos

Os instrumentos mais eficazes para formar bem a consciência estão na Palavra de Deus, na oração que nos amadurece na fé e nos leva a prática da fé. A confrontação com a cruz de Jesus.

Nossa consciência é esclarecida pelos dons do Espírito Santo, pelos bons conselhos dos outros e pela orientação do magistério da Igreja.

Somos chamados também a interpretar os sinais. Deixar que as circunstâncias nos dê seus avisos, pois Deus se faz perceber nos fatos históricos e por vezes fechamos nossos olhos a isso.

Formar uma consciência reta não é difícil, mas requer esforço. A consciência boa se esclarece na fé e se apóia na caridade, enquanto os atos ruins se firmam na ignorância e no pecado.

Quanto mais caminhamos com uma consciência reta para o bem, mais livres seremos.

Estamos no processo de conversão, não em pequenos gestos, mas de uma conversão interna, que se realiza na vida e no dia-a-dia. Conversão no exercício com os pobres, consciência reta na defesa da justiça. Consciência lúcida na correção fraterna, consciência atinada na revisão diária de nossas vidas, no exame de consciência, no direcionamento da liberdade, na aceitação do sofrimento, em tomar nossa cruz a cada dia e seguir Jesus.

Padre Reginaldo Manzotti

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