segunda-feira, 6 de junho de 2011

Livro do Eclesiástico - AUTOR E DATA

AUTOR E DATA

Excetuando os escritos proféticos, é este o único livro do Antigo Testamento do qual temos a certeza de conhecer o autor: "Sabedoria de Jesus, filho de Sira", como vem assinalado no fim, em jeito de assinatura (51,30; ver 50,27). Segundo muitos autores, terá assinado a sua própria obra, por influência helenística.

Jesus Eclesiástico, ou Sirácide, terá vivido em Jerusalém (50,27) no início do séc. II a.C., como se pode deduzir do louvor que faz a Simão, Sumo Sacerdote (50,1-21). Para a identificação de tal Simão com Simão II é decisiva a notícia que nos é dada pelo tradutor grego da obra, filho ou neto do autor, que escreve por volta de 132 a.C., correspondente ao ano 38 de Ptolomeu VII Evergetes (ver Prólogo).

O livro deve ter sido escrito por volta de 180 a.C. e antes da trágica situação que começa com a destituição de Onias III, filho de Simão, em 174 a.C., a quando da violenta perseguição de Antíoco Epifânio (175 a.C.) e da conseqüente sublevação dos Macabeus (167 a.C.). O próprio ECLESIÁSTICO nos fornece alguns dados sobre a sua identidade e o seu trabalho. Em 51,23 fala da própria escola e convida os ignorantes a inscreverem-se para poderem adquirir gratuitamente a sabedoria (51,25).

O período em que ECLESIÁSTICO compõe a sua obra e estabelece, na sua própria casa, uma escola de formação sapiencial, está profundamente marcado por uma forma de civilização que se chama "helenismo." É uma forma nova de vida, cuja expansão no Médio Oriente ocorreu depois de Alexandre; caracterizava-se essencialmente pela convivência de culturas, pelo sincretismo religioso, por um universalismo que tende a abolir as fronteiras de raças e de religião, pela glorificação das forças da natureza e pelo culto do homem.

Perante o dinamismo e a expansão sempre crescente do helenismo na própria Palestina, o judaísmo começou a sentir ameaçada a sua própria existência. E ECLESIÁSTICO, apesar da sua abertura de espírito em relação a certos valores do mundo grego, toma consciência de que esse novo movimento de idéias e de costumes se opõe a certas exigências fundamentais da religião judaica (2,12-14). Com outros judeus piedosos, pressente o fim da coexistência pacífica entre o helenismo e o judaísmo e prevê o momento da cisão entre as duas visões diferentes do mundo.

Em 198 a.C., depois da batalha de Pânias, a Palestina passou do domínio dos Ptolomeus do Egito para uma outra, mais hostil, dos Selêucidas de Antioquia da Síria. Antíoco III (223-187) e o seu sucessor Seleuco IV (187-175) ainda foram bastante favoráveis aos judeus, concedendo-lhes privilégios e isenções, contribuindo até, pessoalmente, para as despesas do culto no templo (2 Mac 3,3). Mas a situação política precipitou-se rapidamente com Antíoco Epifânio (175-164), que, devido ao jogo de influências, destituiu Onias III do cargo de Sumo Sacerdote e desencadeou uma violenta perseguição contra os seus opositores.

Esta situação política posterior a Eclesiástico, aliada à situação religiosa e cultural acima descrita, viria a provocar a sublevação judaica chefiada pelos Macabeus. Foi precisamente perante a invasão avassaladora do helenismo que ele escreveu para defender o patrimônio religioso, histórico, sapiencial e cultural do judaísmo, a sua concepção de Deus, do mundo e da eleição privilegiada de Israel. Neste livro procura convencer os seus compatriotas de que possuem, na sua Lei revelada, a sabedoria autêntica e, por isso, não devem capitular perante o pensamento e a civilização dos Gregos.

continua amanhã.....

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