Mt 7,21-27
A liturgia do 9º Domingo Comum é um convite a construir a vida sobre o alicerce firme da Palavra de Deus. Quando a Palavra de Deus está no centro da vida e dá forma aos pensamentos, sentimentos e ações, o homem caminha, com segurança, ao encontro da realização plena, da vida definitiva.
No Evangelho Mateus convida a sua comunidade - e as comunidades cristãs de todos os tempos e lugares - a enraizar a sua vida na Palavra de Jesus e a traduzir essa adesão em ações concretas. Para ser cristão é preciso esforçar-se por cumprir, em cada instante, a vontade de Deus e viver de acordo com os valores propostos por Jesus nas bem-aventuranças.
A 1ª leitura, na mesma linha, convida o cristão a deixar que a Palavra de Deus envolva e penetre toda a sua vida, marque os seus pensamentos, sentimentos e ações. Garante que construir a vida à volta da Palavra de Deus é assegurar a felicidade e a vida definitiva.
A 2ª leitura não se refere tão diretamente ao tema do domingo (a Palavra de Deus); mas garante-nos que a salvação resulta do dom gratuito de Deus, tornado presente em Cristo, a Palavra viva de Deus, que veio ao encontro dos homens para os subtrair ao caminho da escravidão, do pecado e da morte.
Estamos ainda no cenário do "sermão da montanha". Jesus continua a oferecer à sua comunidade a Lei que deve guiar o novo Povo de Deus ao longo da história.
Para uma compreensão do texto convém ter presente que a redação final do Evangelho de Mateus acontece na década de 80. Passaram dez anos sobre a destruição de Jerusalém e ainda não aconteceu a segunda vinda de Jesus. Os cristãos estão desanimados e desiludidos. A vivência cristã destas Comunidades entrou numa fase de desleixo, de rotina, de instalação, de conformismo; a fé tornou-se "morna" e sem grandes exigências. É a época em que começam a aparecer falsos profetas, que se apresentam como enviados de Deus, que reivindicam a estima e a admiração da comunidade, mas que têm comportamentos pouco cristão e ensinam doutrinas estranhas. O evangelista contempla com preocupação sinais de esfriamento do entusiasmo inicial e de confusão.
O texto apresenta duas partes, com dois temas distintos. Tanto uma parte como outra apelam a uma vida de coerência com a Palavra de Deus e com as propostas de Jesus.
Na 1ª parte, Mateus oferece à sua comunidade critérios para identificar os falsos profetas. Eles dizem "Senhor, Senhor", mas não fazem a vontade de Deus; profetizam, expulsam demônios, fazem milagres em nome de Deus, mas não mantêm com Deus uma relação de comunhão e de intimidade. Têm Deus nos lábios, mas o seu coração está cheio de iniqüidade. Falam muito e bem, mas as suas obras denunciam a sua falsidade. O verdadeiro profeta e discípulo é aquele que, para além das palavras que diz, faz a vontade do Pai que está nos céus.
Na 2ª parte, temos a parábola das 2 casas: uma construída sobre a areia e outra construída sobre a rocha. O que é construir a casa sobre a rocha? É construir a vida de acordo com os ensinamentos e propostas apresentados por Jesus no "sermão da montanha". Esse é o caminho seguro para encontrar um sentido para a própria existência. As dificuldades da caminhada não impedirão o homem de alcançar a vida plena, se a sua vida estiver construída sobre a Palavra de Jesus. O que é construir a casa sobre a areia? É seguir o caminho do egoísmo e da auto-suficiência, longe das propostas apresentadas por Jesus no "sermão da montanha". Nessas circunstâncias, a "casa" desmoronar-se-á rapidamente e não dará qualquer garantia de eternidade, de vida plena e definitiva.
O Evangelho de hoje convida todas as comunidades, marcadas pela rotina, pela instalação, pelo desânimo, pelo desleixo, pela confusão trazida pelos "falsos profetas" a enraizar a sua vida na Palavra de Jesus. A Palavra de Jesus tem de ser assumida, interiorizada, transformada em vida concreta. Não basta invocar o Senhor, ou ter gestos externos de piedade: é preciso viver dia a dia, com fidelidade e constância, as propostas de Jesus.
A questão essencial que nos é posta, é fazer da proposta de Jesus o alicerce firme sobre o qual construímos a nossa vida. É a proposta de Jesus que deve servir de base aos nossos pensamentos, palavras e gestos.
Muitos homens e mulheres do nosso tempo estão convencidos de que ser cristão é ter o nome inscrito no livro de batismo da paróquia, ou estar ligado à comissão de festas em honra do padroeiro, ou aparecer na Igreja nos casamentos e funerais. Há até quem se assuma como "cristão, não praticante". Mateus deixa as coisas bem claras: "ser cristão" não é possuir um bilhete de identidade que atesta o nosso batismo; mas é esforçar-se seriamente por viver, 24 horas por dia, de acordo com as propostas de Deus. Para mim, "ser cristão" é um compromisso sério que eu um dia assumi (e que procuro, a cada instante, concretizar na minha vida) de "fazer a vontade do Pai que está nos céus".
Convém ter presente que "fazer a vontade do Pai que está nos céus" não se confunde necessariamente com o cumprimento de ritos externos (práticas de piedade, comportamentos "religiosamente corretos", cerimónias solenes, devoções, recitação de fórmulas, etc.). Os ritos externos só valem enquanto expressão da atitude interior de adesão a Deus e de cumprimento da sua vontade... Que sentido faz cumprir escrupulosamente os ritos e no resto da vida ignorar os valores de Deus?
Construir a casa sobre a rocha é aderir às propostas de Jesus e construir a vida sobre o ensinamento das bem aventuranças - ou seja, escolher a liberdade diante dos bens, viver a partilha, a mansidão, o empenho pela justiça e pela paz, a misericórdia, a sinceridade, o compromisso pelo "Reino". Construir a casa sobre a areia é rejeitar as propostas de Jesus, escolher a auto-suficiência e construir a própria vida sobre valores efémeros - ou seja, o dinheiro, o poder, a fama, a glória, a mentira, a injustiça, a violência.
Que importância assumem as propostas de Jesus na minha vida? A minha vida de todos os dias é construída sobre os valores que Jesus me propôs?
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